O matrimônio é a união do sexo forte e do sexo frágil, união indissolúvel, para um como para outro, enquanto viverem. A este jugo vão inseparavelmente unidos, graves deveres e, entre outros, aqueles que consitui um dos fins do matrimônio, a saber: o auxílio mútuo dos cônjuges, nas dificuldades da vida.
Ora, onde quer que haja uma pessoa humana, haverá forçosamente defeitos e imperfeições e, originam-se os maus hábitos, os maus modos, as faltas e quedas, diferentes em cada um dos cônjuges; daí o mal estar, o desgosto, o aborrecimento e as misérias todas do esposos, obrigados a viverem juntos toda a vida; daí, enfim, o encontro de palavras ásperas, de discussões acaloradas, de cenas muitíssimo desagradáveis que revolucionam o lar e acabam, frequentemente, com a ruína do mesmo, se, em tempo, esses defeitos não forem energicamente refreados. E então ai, dos fracos, que são, em geral, e com raras exceções, a mulher e os filhos.
Para remediar às tristes consequências da vida em comum, é que Jesus Cristo concede Suas graças aos casados, no Sacramento do matrimônio, afim de que possam viver em paz, suportando-se mutuamente e cumprindo cada qual os seus deveres, sob as vistas de Deus.
É ainda por esse motivo que o Apóstolo declara que o matrimônio simboliza a união de Jesus Cristo e Sua Igreja. Com efeito, Jesus Cristo consagra à Igreja um afeto sem limites e esta por sua vez, submete-se-Lhe dócil e inteiramente.
"Maridos, diz ainda o Apóstolo, amai as vossas esposas como Jesus Cristo ama a Sua Igreja e por ela Se sacrifica. O marido ame a sua mulher como a si mesmo e a mulher reverencie o seu marido".
Examinemos mais de perto como se manifesta o amor, a dedicação e a solicitude de Nosso Senhor por Sua Igreja e da Igreja por Ele e, desse exame, tirarão os esposos cristãos sublimes ensinamentos.
Jesus Cristo é o chefe da Igreja, a cabeça do corpo, em íntima união com os fiéis. O marido é a cabeça da mulher formando um só com ela, una caro.
Jesus ama a Sua Igreja com tais extremos de amor que, por ela, sacrificou a vida; por sua vez a Igreja obedece-Lhe em tudo, com respeitosa submissão, Lhe está sujeita. A mulher deve obediência ao marido, em tudo quanto este, razoavelmente, exigir.
Jesus Cristo não pertence senão a uma Igreja a Sua. O marido não pode pertencer senão à Sua esposa, àquela que escolheu e aceitou livremente, diante dos altares.
A Igreja não pertence senão a Jesus Cristo e a esposa só do seu marido deve ser.
A Igreja repele, com indignação, qualquer intruso que lhe venha exigir o sacrifício dos seus deveres; daí, a sua intolerância com os cismas e heresias. A mulher deve, sem piedade e sem consideração alguma, repelir qualquer infame, que pretenda ocupar o lugar do marido ou usurpar-lhe os direitos.
Jesus Cristo permanece com Sua Igreja até a consumação dos séculos e esta com Jesus Cristo. Os esposos devem permanecer um ao lado do outro, enquanto viverem. Jesus Cristo governa a Igreja, protege-a, defende-a, sustenta-a e lhe consagra toda a sua existência; por ela sofreu e morreu. O marido deve dirigir a mulher com os conselhos que o amor e o afeto lhe inspirarem; deve consolá-la, protegê-la, defendê-la, ser-lhe devotado, sempre pronto a qualquer sacrificio razoável.
A Igreja ama ternamente a Jesus Cristo e Lhe é inteiramente devotada, consola-O e se torna digna de Suas mais delicadas atenções, sempre ocupada em Sua honra e glória, em torná-lO cada vez mais conhecido e amado de todos. A mulher deve ser previdente, dedicada ao marido, sempre afável, procurando agradar-lhe, consolá-lo, merecer-lhe, enfim, o afeto; deve ser a sua alegria e felicidade.
Quando Jesus Cristo é perseguido e ultrajado a Igreja sofre com Ele.
Quando o marido sofre qualquer que seja a causa, a mulher deve partilhar de seus padecimentos.
Quando a Igreja está aflita, Jesus Cristo toma parte em suas angústias. Quando a mulher sofre, o marido não deve mostrar-se-lhe indiferente, mas dá-lhe provas de que toma parte em suas dores.
Jesus Cristo e a Sua Igreja têm as mesmas aspirações, os mesmos desígnios e projetos. Na união conjugal, os esposos devem esforçar-se por ter as mesmas aspirações, os mesmos desígnios, para a felicidade temporal e eterna de ambos.
Jesus Cristo e a Igreja usam dos mesmos meios para a formação de Seus filhos; sempre no mais perfeito acordo, dão-lhes a vida da graça, educam-nos, formam-nos, fortificam-nos e assistem-nos até a morte, na mais perfeita união de vistas. Os pais cristãos de mãos dadas, devem dar a seus filhos uma educação francamente cristã, acompanhá-los e guiá-los na mocidade com seus conselhos desinteressados, protegê-los até a morte.
Jesus Cristo e a Igreja trabalham incessantemente para o aumento dos fiéis. Os esposos cristãos, se não quiserem atrair sobre si a cólera divina, nunca hão de pôr obstáculos à procriação de uma família numerosa, destruíndo a vida em seu gérmen.
É assim que Jesus Cristo, o mais carinhoso dos pais e a santa Igreja, a mais afetuosa das mães, traçam, aos esposos e pais, o caminho a seguir, no cumprimento dos deveres e obrigações no matrimônio. Inspirem-se, pois, sempre e em todas as circunstâncias, neste divino modelo, para que, na hora da morte, possam deixar a sua posteridade um rico patrimônio de virtudes cristãs.
Ah! como é digno de todo o respeito o matrimônio assim compreendido:
"Honorabile connubium in omnibus".
É por perderem de vista o modelo que a Igreja lhes propõe, que os cristãos não encontram no lar aquela amizade afetuosa que a vida em comum exige...
(Excertos do livro: As desavenças no lar, J.Nysten, edição de 1927)
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